A alta gestão precisa ter visão bifocal: parte para interesses de curto prazo, outra para interesses de longo prazo.
Peter Drucker

Toda empresa com intencionalidade estratégica definida tem um caminho a percorrer entre sua condição atual, o lugar onde está, e a sua condição desejada, onde ela deseja chegar. Este “caminho”, entretanto, é cada vez mais difícil de determinar em função do dinamismo do “tabuleiro competitivo”.

O profissional com pensamento estratégico, invariavelmente, ajuda a empresa a suportar o ambiente dinâmico, ajudando a identificar e colocar em execução o que for necessário, sem ferir os princípios identificados na intencionalidade.

Mais do que um conjunto de projetos e atividades, definidos de maneira rígida, compete a estratégia moderna a capacidade de decisão assertiva – para curto, médio e longo prazos – e, sobretudo, adaptação. No fim, o desafio é desenvolver e manter os sistemas de geração de valor funcionando de maneira sinérgica ao propósito.

Indivíduos com pensamento estratégico definido são tomadores de decisão. É a assertividade desses profissionais que ajuda a atingir seus objetivos, cumprindo a missão.

Por tudo isso, o pensamento estratégico demanda olhar estratégico.

O olhar estratégico é mais importante do que nunca

Estamos em tempos de organizações e tecnologias exponenciais. Mais do que nunca, a capacidade de fazer “adaptações de rota” é fundamental. A competição está sendo constantemente redefinida e a colaboração também.

A estratégia corporativa, hoje, é, essencialmente, manifesta em um conjunto de padrões e critérios coerentes para a tomada de decisões no dia a dia. Entretanto, a assertividade das decisões demanda pleno entendimento da “realidade organizacional”, que só é possível com olhar estratégico pleno.

O olhar estratégico é fundamento do pensamento estratégico que, por sua vez, é indispensável a qualquer gestor – qualquer um que toma decisões -, pois a administração compete em muito mais do que tratar de pessoas, recursos, competências, informações ou atividades organizacionais.

Apenas quem tem olhar estratégico pode, de fato, planejar, organizar, liderar e dirigir o sistema de geração de valor de forma a consolidar a visão manifesta na intencionalidade, conduzindo esforços para o sucesso da organização inteira.

O olhar estratégico é um composto de quatro perspectivas

O olhar estratégico plena deve servir como base, tanto para a sobrevivência da organização – baseada na potencialização das forças e mitigação das fraquezas da empresa – como para seu sucesso competitivo – aproveitando oportunidades e evitando ameaças. Tudo isso, considerando aspectos sociais, financeiros, econômicos, tecnológicos e culturais.

A percepção plena das forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de uma empresa implica no exame de quatro perspectivas distintas: sistêmica, periférica, antecipatória e intuitiva. É da combinação dessas quatro visões que nasce o pleno entendimento e capacidade de formular estratégias.

Perspectiva sistêmica ou holística

Ninguém, com pensamento estratégico, percebe apenas uma parte da empresa. Pelo contrário, sempre vê o todo. Afinal, o sistema é sempre maior que a soma de suas partes.

A força de uma corrente é determinada pelo elo mais fraco – Elyahu Goldratt

Perspectiva sistêmica implica em perceber as partes, ou componentes, de uma organização, papéis/responsabilidades dessas partes e a forma como se relacionam.

A perspectiva sistêmica pode ser simplificada como a capacidade de “perceber o todo”

Perspectiva periférico

Pensamento fora da caixa, ou seja, dos limites da organização, reconhecendo o entorno no qual a empresa está inserida. Isso implica entender não apenas os competidores, mas também clientes, fornecedores, governo e parceiros da cadeia de valor ou do ecossistema.

A perspectiva periférica implica em perceber a própria organização como uma parte, ou componente, que interage com outras partes com responsabilidades determinadas, muitas vezes sobrepostas, e da forma como se relacionam.

A perspectiva periférica pode ser simplificada como “ver o entorno”

Perspectiva antecipatória

Prever o futuro não é possível, mas isso não dispensa o esforço de tentar antecipar o que está por vir como forma de garantir preparo adequado. Para isso, é necessário entender que, quanto maior o horizonte que analisamos, mais variáveis precisamos considerar, não só pelas decisões tomadas dentro da organização, como por variações externas.

A perspectiva antecipatória implica em ter clareza sobre as diferenças entre o futuro que consideramos mais provável e aquele que consideramos desejável, alinhado a visão manifesta na intencionalidade estratégica.

O desenvolvimento da perspectiva antecipatória implica na identificação e avaliação de tendências. Também implica na percepção das consequências decorrentes de ações presentes.

A perspectiva antecipatória pode ser simplificada como “mirar as consequências”

Perspectiva intuitiva

Drucker já dizia que a melhor forma de prever o futuro é criá-lo. Isso implica em ter condições de imaginar, intuir e entender o “tabuleiro competitivo”, antecipando movimentos.

A geração de insights é uma questão de disciplina e método.

A perspectiva intuitiva pode ser simplificada como “entender para onde ir.”

Definindo o olhar estratégico

Olhar estratégico, sendo uma composição das perspectivas holística, periférica, antecipatória e intuitiva pode ser simplificada como a capacidade de ver o todo e o entorno, mirando consequências desejadas, de forma a entender claramente para onde ir.

Olhar estratégico para conviver com a incerteza

Hoje em dia, o “tabuleiro competitivo” aponta a impossibilidade de evitar a incerteza. Logo, o caminho é buscar formas de conviver com ela.

Há muito tempo acreditamos que, quando a taxa de mudança dentro de uma instituição se torna mais lenta do que a taxa de mudança externa, o fim está à vista. A única questão é quando. – Jack Welch

Há muita mudança estratégica no “caminho”, principalmente nos tempos atuais. O processo de planejamento estratégico, por exemplo, deixou de prever o futuro para se ajustar rapidamente a ele, eliminando complexidade predatória e implantando, consistentemente, rupturas articuladas.

Olhar estratégico como forma de maximizar resultados

Empresas mais lucrativas são mais competitivas. A lucratividade, entretanto, vem das capacidade sda empresa gerar mais receitas e de eliminar custos. O combate aos custos, entretanto, precisa ser inteligente.

Em uma empresa, todas as atividades tem sua importância, mas algumas tem mais importância do que as outras. As atividades associadas as capacidades diferenciadoras – associadas a vantagens competitivas – são tão importantes que, eventualmente, mesmo em movimentos de corte de custos, podem receber mais investimentos. Por outro lado, há atividades que “apenas mantem as luzes acesas”, essas devem ter custo cada vez menor.

Custo é como unha; tem de ser cortado sempre. – Beto Sicupira

A determinação do que é diferencial e o que só é possível com pleno olhar estratégico. Assim, ela é fundamental para maximização dos resultados.

Olhar estratégico para diferenciar o core business, oportunidades e oportunismos

O olhar estratégico confirma ou nega a intencionalidade. Ou seja, determina se o negócio de uma organização, sua missão e visão fazem sentido, frente ao conjunto de princípios e valores.

A análise das forças e fraquezas – pela perspectiva holística – e das oportunidades e ameaças – pela perspectiva periférica – autorizam determinar com mais clareza oportunidades e oportunismos, mais ou menos alinhados com o core busines, antecipando resultados – pela perspectiva antecipatória – determinado que ações táticas fazem ou não sentido – pela perspectiva intuitiva.

Antes de avançar …

Por tudo que foi indicado nesse capítulo, é fácil inferir que olhar estratégico é fundamental para o pensamento estratégico. De forma que recomendo as seguintes reflexões:

  • No dia a dia, você pondera as necessidades de seu setor ou tenta perceber a empresa como um todo?
  • Você conhece os concorrentes de sua organização?
  • Quais são os principais interesses dos parceiros de sua organização?
  • Quais são os aspectos que podem influenciar cenários futuros da sua organização?
  • Qual a relação, para você, entre intuição e criatividade?

Referências bibliográficas

CHIAVENATO, Idalberto; SAPIRO, Aarão. Planejamento Estratégico: da intenção ao resultado. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Atlas, 2020.

CORREA, Cristiane. Sonho Grande. Rio de Janeiro, RJ: Primeira Pessoa, 2013.

(GE), Gerneral Eletric (ed.). GE Annual Report 2000. Boston, Ma: General Eletric, 2000. Disponível em: https://www.annualreports.com/HostedData/AnnualReportArchive/g/NYSE_GE_2000.pdf. Acesso em: 17 out. 2021.

GOLDRATT, Eliyahu; COX, Jeff. A meta: teoria das restrições (ToC) aplicada a indústria. 4. ed. São Paulo, SP: Nobel, 2015. 400 p. Edição comemorativa de 30 anos.

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Ricardo
Ricardo
2 anos atrás

Muito bom o artigo, com informações bem preciosas, parabéns!

Elemar Júnior

Fundador e CEO da EximiaCo, atua como tech trusted advisor ajudando diversas empresas a gerar mais resultados através da tecnologia. 

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